quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Paulo Roberto Salvador Lopes de Souza

A TELEVISÃO NO COMPORTAMENTO DO homem cristão

Resumo

O propósito do presente estudo foi apurar a influência que a televisão pode ter no comportamento do homem cristão de hoje. Este vem experimentando mudanças das mais diversas, que acabam lhe proporcionam uma sensação de insegurança, tudo em razão da adoção de novas tecnologias, que nem sempre domina com facilidade, a crescente urbanização, a ruptura de tabus e preconceitos entre outros tantos fatores. O conjunto de tais fatores força-o a reformular seu comportamento diante do mundo, do outro, de si mesmo e até de Deus. Como fuga para enfrentar todas essas dificuldades a tendência da maioria é buscar formas de alienação o que faz surgir o que Rojas denomina como homem light; este novo ser, ainda que demonstre possuir interesse por tudo o que está a seu redor, não se compromete com absolutamente nada. Para ele tudo é visto como passageiro, até mesmo suas relações pessoais. É um indivíduo que não possui grandes metas ou ideais. Dentro deste contexto surge a televisão como opção de lazer, ou passa tempo, a qual, apesar de aparentemente inofensiva, possui uma capacidade ímpar de influenciar padrões de comportamento. Some-se a isso também que atualmente existe também muita programação televisiva por parte de diversas religiões e doutrinas cristãs, cada uma com seu perfil e público-alvo próprios. A pesquisa foi do tipo bibliográfica, utilizando-se o método da dedução.

Palavras-chave: Comportamento. Homem cristão. Influência da TV.

introdução

No mundo ocidental o ser humano vem sendo cada vez mais cobrado a adotar uma postura proativa em todos os aspectos de sua vida, sempre que se dispõe a obter sucesso. Nestes estão incluídos os de ordem cultural, pessoal, religioso, ambiental, profissional, familiar, entre outros tantos, não sendo facilmente aceita qualquer maneira que denote algum tipo de acomodação.
Para tanto os meios de comunicação, com destaque para a televisão (TV), vêm contribuindo para que se criem paradigmas comportamentais, os quais, muitas vezes, estão completamente distanciados de valores éticos, morais e cristãos. Exemplo disto pode ser extraído das telenovelas e filmes, nos quais, não raro, o executivo de sucesso é retratado através de um indivíduo despido de caráter e princípios éticos e que acredita que tudo é válido para alcançar os fins que pretende atingir.
Certamente que não se recomenda a pessoa alguma que adote uma conduta retrógrada, em que se tenha a presença de preconceitos e visão restrita a respeito do que ocorre no mundo atual.
O que não se pode esquecer, entretanto, é que qualidades como ponderação e moderação sempre se mostrarão benvindas em qualquer sociedade que se considere.
O interesse pelo presente assunto decorre da preocupação do autor exatamente com a falta de limites nas condutas humanas, que muitas vezes são ressaltadas nos meios de comunicação de massa.
O estudo está delimitado à analise da situação na TV brasileira.
A pergunta ao problema cuja resposta se busca através do presente estudo é apurar até que ponto o homem cristão pode ser efetivamente influenciado pelos comportamentos antiéticos divulgados pela mídia como o recomendado para alcançar o sucesso?
O objetivo final que se tem é no sentido de descrever as atitudes que o cristão convicto pode adotar para evitar sofrer má influência em sua postura a partir dos conteúdos e mensagens divulgados pela TV?
A metodologia é a de uma pesquisa bibliográfica, fundamentada em livros e uma Tese de Doutorado, recorrendo-se ao método dedutivo na análise dos dados coletados.

1. O HOMEM OCIDENTAL NOS TEMPOS ATUAIS

Considerando que o Brasil encontra-se entre os países ocidentais, no que o presente estudo se acha delimitado, analisa-se no presente tópico a situação em que se encontra o homem, diante de todas as facilidades com que se depara em seu dia-a-dia.
David Harvey (1992), em sua obra Condição Pós-moderna, publicada em 1989 na França, chama a atenção, com extrema propriedade, para as mudanças profundas nas práticas culturais, que vêm se verificando desde a década de 1970.
Este momento, denominado então como pós-modernidade, é visto por Leonardo Boff como participante de:

[...] todos os pós-ismos (pós-histoire, pós-industrialismo, pós-estruturalismo, pós-socialismo, pós-marxismo, pós-cristianismo, etc.) com aquilo que eles têm em comum: a vontade de distanciamento de certo tipo de passado ou a recusa a certo tipo de vida e de consciência, a percepção de descontinuidade sentida e sofrida no curso comum da história, e a sensação de insegurança generalizada (BOFF, 2000, p. 18).

Dentro de tal concepção são consideradas evoluções nos meios de comunicação, nos transportes, na informática, na eletrônica, telemática, levando-se, igualmente, em conta principalmente as mudanças sociais decorrentes do desenvolvimento econômico e a urbanização crescente.
Trata-se também de um período marcado pela ruptura de tabus e preconceitos, com a explosão religiosa, adotando-se um novo comportamento diante do mundo, bem como do outro, de si mesmo e de Deus.
Daí emerge o chamado homem light, tão bem descrito por Rojas (2004). Este tem por principais características a capacidade de aproveitar bem o momento que está vivendo e consumir, demonstrando interesse por tudo, só que a nível superficial e, ao mesmo tempo, não se compromete com absolutamente nada. Sua convicções são destituídas de firmeza, demonstrando certa apatia em seus compromissos.  Apega-se ao que está na moda, sendo sua ética baseada na estatística e não em sua consciência. Quanto a sua moral ela e repleta de neutralidade e subjetividade, sendo relegada à intimidade, sem vir a público.
Cuida-se de uma pessoa para quem tudo é visto como transitório, conceito que transfere, inclusive, para sua vida conjugal.  Para este indivíduo não há desafios, metas grandiosas ou mesmo ideais. Ele simplesmente vive seu dia porque acordou e se deita à noite por estar com sono.
Dentre as principais características negativas podem ser apontadas o consumismo, o hedonismo, a permissividade, o relativismo, o qual considera que, se há consenso, então a questão é válida; o que importa para este indivíduo é a opinião da maioria. A conseqüência de tal conjunto de qualidades é vista pelo mencionado autor, contudo, como propiciadoras a uma vulnerabilidade acentuada, por enxergar, em tal homem, um ser vazio, despido de idéias, além de evasivo e contraditório.
Poderia, assim, ser comparado, de forma alegórica, com uma esponja nova, pronta para absorver todo tipo de conteúdo, que possa preencher as lacunas relativas à eterna curiosidade humana, que busca motivações principalmente para o viver. Neste processo o indivíduo fica propenso não somente a absorver o melhor do que percebe a sua volta, como também o pior.
Dentro desta linha, este ser como um cidadão comum, ao final de seu horário de trabalho retorna à casa e acaba seu dia, então, diante de uma tela de TV. Diante de seu interesse pelos acontecimentos, presta atenção a tudo o que lhe é transmitido, mas não chega a realizar críticas, levando em conta padrões íntimos

2.  ATELEVISÃO COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO DE MASSA

Desde seu surgimento a televisão tornou-se um marco na comunicação de massa em todas as partes do mundo, através da qual as sociedades começaram a se reconfigurar pela assimilação de novos valores e ideais transmitidos por tal meio.
Em tal contexto, tem-se que os meios de comunicação assumiram um papel extraordinário, transformando-se na mais intensa a filosofia em prol do prazer individual, isolado e que, não apenas dispensa a interação com seus pares de forma direta, mas chega, inclusive, a servir de barreira para que isto ocorra.
A doutora em Sociologia Maria da Graça Jacintho Setton (2002) esclarece que “[...] sabe-se que a cultura de massa ao circular informação e entretenimento transmite também valores e padrões de conduta diversificados”. Acrescenta, ainda, que: “É possível pensar os sujeitos sociais podendo orientar suas práticas e ações [...] a partir de outros parâmetros que não sejam mais exclusivamente locais, presentes na escola e na família”. Quando a autora arremata seu pensamento afirmando, enfim, que:

Assim, as trajetórias individuais e coletivas não seriam mais definidas, traçadas e vividas apenas a partir de experiências próximas no tempo e no espaço. Ao contrário, os sujeitos teriam contatos, seriam atingidos por modelos e referências produzidos em contextos fisicamente distantes e dispersos.


Na busca pelo lazer a TV fica como a opção de menor custo, estando disponível a qualquer momento, o que a transforma em forte instrumento de fornecimento de padrões a serem seguidos pela sociedade.
Tem-se, aí, o que se chama de hedonismo, o qual, na crítica de Michel Quoist (1977) deve ser combatido, tendo em vista que se deve considerar que o verdadeiro prazer provém do espírito, a partir do qual se pode apreciar o sabor da vida, permitindo que os seres sejam transportados para a eternidade; o prazer da carne, por outro lado provocaria saturação, com sabor de morte.
Radicalismos à parte, como observado no início, a ponderação ainda é um caminho que não oferece qualquer contra-indicação, o que a torna, por isto mesmo, como de recomendação irrestrita.
Se, por um lado, há o lado perverso das transmissões livres da TV brasileira, de outro estão os diversos programas que divulgam o cristianismo.

3. A TV COMO DIVULGADORA DA IDEOLOGIA CRISTÃ

Para o cristão que aprecia assistir à TV indaga-se se a programação veiculada em tal meio de comunicação poderia agregar valor às convicções que possui.
Desde que o Brasil se decidiu pela liberdade de fé e culto, dissociando sua imagem da igreja católica, houve uma grande expansão das demais igrejas cristãs.
Durante a maior parte do século XX o Brasil foi considerado como o maior país católico do mundo, sendo que a hegemonia do catolicismo era incontestável, quadro que começou a se modificar a partir dos anos 1990.
No momento observa-se que a programação televisiva encontra-se repleta de programas religiosos. O fenômeno se verifica não apenas em razão da compra de espaços em canais abertos, mas também a partir da aquisição de concessões de canais próprios de TV.
Santos (2004) descreve que os meios de comunicação de massa foram efetivamente considerados como importantes, mesmo como veículos evangelizadores no País a partir dos anos 1960.
Todavia, a autora citada demonstra sua preocupação com a falta de controle com relação ao conteúdo das programações religiosas evangélicas, uma vez que estas, segundo seu ponto de vista, incitam preconceitos contra outros tipos de manifestações e condutas religiosas individuais.
Um aspecto curioso que merece ser registrado é que evangélicos, de todo tipo, passaram a se qualificar, antes de informação quanto à igreja a que se integraram, como “os cristãos”, como se católicos, espíritas e outros segmentos religiosos não contassem com igual fundamento para a ideologia a que seguem, que é, enfim, o ensinamento de Jesus Cristo.
Tecendo uma crítica quanto às correntes evangélicas explica Romeiro (2005, p. 12) que tais igrejas têm sua longevidade em razão do valor que dão ao capitalismo, que privilegiam a condição de que: “Dinheiro é bênção e não maldição. Além de justificar o capital, o neo-pentecostalismo justifica o individualismo – a bênção é para o que tem fé, ela é inalienável e intransferível”. Some-se a isto o investimento que realizam na mídia, o que leva ao sucesso em colocar a igreja inserida tanto no mercado como na política de mercado das igrejas.
Reforçando esse pensamento, Santos (2004) entende que a responsabilidade dos fiéis, quanto aos desígnios de sua igreja, está diretamente ligada às características da teologia da prosperidade. Esta diz respeito, principalmente, à aliança entre fé e sacrifício em nome de Deus.
Para a autora é preciso que se separe o que vem a ser fé, a qual pode ser traduzida através da fidelidade aos princípios religiosos, com o que se considera como sacrifício, que está relacionado ao pagamento do dízimo.
Diante disso, deveria ser levado em conta prioritariamente que: “[...] mais do que o tradicional preceito do “é dando que se recebe”, na Teologia da Prosperidade acredita-se que “[...] é querendo que se consegue” (Santos, 2004, p. 152).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, pode-se concluir, então, que o verdadeiro homem cristão, é perfeitamente capaz de equilibrar seus momentos de lazer com a fé e sua religiosidade. Colocando-se em um estado de vigília constante rejeita valores dissociados dos preceitos cristãos mesmo em seus momentos de fragilidade pessoal.
Não deve este se privar de se manter atualizado com o que acontece ao seu redor, até mesmo para que possa melhor compreender determinadas atitudes daqueles com que convive, seja no lar, no trabalho, na comunidade em que vive, entre outros.
Alienar-se não o torna um divulgador dos preceitos éticos e morais com melhor preparo; ao contrário limita sua visão do mundo em que vive e, a partir daí, ele acaba sendo alijado dos grupos, cujo resultado prejudica a si e a todos os que com ele convivem.

REFERÊNCIAS

BOFF, Leonardo. A voz do arco-íris. Brasília: Letraviva, 2000.

HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.

LIBANIO, João Batista. Jovens em tempo de pós-modernidade: considerações socioculturais e pastorais. São Paulo: Loyola, 2004.

QUOIST. Michel. Construir o homem e o mundo. Trad. Rose Marie Murano, 27.  ed. São Paulo: Duas Cidades, 1977.

ROJAS, Enrique. El hombre light: uma vida sin valores. Madrid: Temas de Hoy, 2004.

ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a graça: esperanças e frustrações no Brasil neopentecostal. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

SANTOS, Susy. Uma convergência divergente: a centralidade da TV aberta no setor audiovisual brasileiro. 2004. 270 p. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas). Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004.

SATTLER, D.; SCHNEIDER, T. Doutrina da criação. In: SCHNEIDER, T. (Org.). Manual de dogmática. V. I. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 204.

SETTON, Maria da Graça J.  Família, escola e mídia: um campo com novas configurações. Educ. Pesqui. V. 28, n. 1. São Paulo, Jan./Jun.-2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-97022002000100008&script=sci_arttext&tlng=es >. Acesso em: 13 maio 2010.


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