terça-feira, 1 de novembro de 2011

Paulo Roberto Salvador Lopes de Souza

A importância da análise prospectiva na elaboração das estratégias organizacionais PARA AUMENTAR A COMPETITIVIDADE

Resumo

O estudo realizado procurou verificar a validade da adoção de métodos que envolvem a análise prospectiva para um melhor desempenho das organizações em geral. Para tanto, foram abordadas as principais razões para a opção por tais recursos, a maneira como se pode realizar a construção de cenários prospectivos, finalizando-se com a apreciação da relevância de se estabelecerem cenários desse tipo na elaboração das estratégias organizacionais. A pesquisa foi baseada em fontes exclusivamente bibliográficas, consistentes de obras como dicionários, livros de autores especializados em questões relacionadas ao tema, bem como em um artigo extraído dos Anais do II Workshop Brasileiro de Inteligência Competitiva e Gestão do Conhecimento, realizado em Florianópolis, SC no ano de 2001 e outro publicado através da internet.

Palavras-chave: Análise prospectiva. Estratégias organizacionais. Competitividade.

introdução

Como explica Marcial (1999) a curiosidade é um elemento que integra a personalidade do ser humano, uma vez que este, desde os primórdios, esteve sempre em busca de respostas para as suas mais diversas indagações. Estas vão desde a procura do como e o porquê da existência de tudo que o rodeia, inclusive a sua própria, em uma constante tentativa de se antecipar aos acontecimentos, de modo a poder enfrentá-los com a maior sustentação possível.
Essa circunstância facilmente se verifica diante da busca dos indivíduos por meios que lhe permitam conhecer o futuro, seja através das religiões que abraçam, do sonho em se colocar diante da famosa bola de cristal e, enfim, tudo que se proponha a lhe oferecer tal possibilidade.
Godet (apud Marcial; Costa, 2001, p. 3) esclarece, ainda, que: “[...] a prospectiva não está associada ao determinismo da futurologia e da bola de cristal”.
Considerando, porém, que cientificamente ainda não se conta com esse tipo instrumento, a solução então pode estar no desenvolvimento de uma análise prospectiva, o que vem sendo bastante utilizado pelas organizações dos tempos atuais.
O interesse pelo tema se justifica pelo fato de que se pode observar que muitas vezes o insucesso na criação e preservação de uma empresa muitas vezes decorre de uma visão limitada quanto à realidade atual desta, sem que se leve em conta possibilidades que pode vir a possuir, considerando-se tanto seu ambiente interno como o externo dentro de uma projeção do futuro.
O estudo ora realizado tem por objetivo final definir de que maneira a adoção da análise prospectiva pode contribuir para um melhor desempenho das organizações em geral nos mercados em que atuam.
A metodologia escolhida foi de uma pesquisa qualitativa, uma vez que não são trabalhados dados quantitativos, sendo a mesma, quanto aos meios, do tipo bibliográfica.

1. RAZÕES PARA REALIZAR umA ANÁLISE prospectivA

Logo de início é importante que se destaque que, independentemente do tipo ou porte de uma organização, a previsão de comportamentos futuros pode-se constituir em um instrumento fundamental para auxiliá-la na tomada de decisões.
A necessidade de tal medida decorre justamente do fato de o futuro tratar-se de uma incógnita, mas nem por isto pode ser considerado como algo impensável.
Para que se possa falar, enfim, de análise prospectiva é importante que se tenha definido previamente que prospectivo é o: “Que faz ver adiante, ou ao longe. Concernente ao futuro” (FERREIRA, 1986, p. 1404-1.405).
Em inglês o termo análogo seria o Foresigh, definido como “the ability to see what probably happen in the futureand to use this knowledge to make careful plans” (OXFORD..., 2003, p. 267) ou a habilidade para ver o que provavelmente acontecerá no futuro e usar esse conhecimento para elaborar planos cautelosos.
Berger (apud MARCIAL; COSTA, 2001, p. 4) assim definiu a atitude prospectiva:

[...] significava olhar longe, preocupar-se com o longo prazo; olhar amplamente, tomando cuidado com as interações; olhar a fundo até encontrar os fatores e tendências que são realmente importantes; arriscar, porque as visões de horizontes distantes podem fazer mudar nossos planos de longo prazo; e levar em conta o gênero humano, grande agente capaz de modificar o futuro.
O que se verifica, contudo, é ser comum o fato de as organizações encontrarem dificuldades para lidar com a necessidade de se antecipar às tendências que vão surgindo, de modo a se manterem competitivas.
Mesmo diante da possibilidade da antecipação efetiva de algumas mudanças essa não representa a situação que ocorre em geral. Isto acaba fazendo com que as organizações se vejam forçadas a tomar decisões estratégicas sem contar para tanto com uma base apropriada de sustentação.
A grande revolução que ocorreu relativamente às alternativas técnicas, para prever e contar com algumas probabilidades quanto ao futuro, teve por marco a publicação do livro “O descobrimento do futuro”, lançado por George Wells.
Como relata Marcial (1999) foi no período pós-guerra que surgiram, enfim, as técnicas de previsão clássica, fundamentadas em modelos matemáticos. Através da RAND Corporation as pesquisas a respeito se intensificaram, passando a envolver ciências como a sociologia, a meteorologia e a política. Costuma-se atribuir a Herman Kahn – que fez parte da RAND Corporation na década de 1950 – a autoria do conceito relativo aos cenários prospectivos, desde a edição de seu livro “The Year 2000”, publicado no ano de 1967.
A partir da adoção de uma análise prospectiva torna-se possível transformar o futuro em uma perspectiva menos incerta quanto aos resultados que se podem auferir.
Além disso, trata-se de um caminho que permite aumentar a probabilidade de sucesso para as organizações, a partir da utilização de cenários prospectivos, a serem considerados como instrumentos de proposição e também de monitoramento de estratégias competitivas.

2. A CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS PROSPECTIVOS

Os cenários são definidos pelo francês Godet (1993) como um conjunto de descrições detalhadas relativamente a uma situação futura, no qual estão incluídas as ações dos principais atores, bem como a probabilidade da ocorrência de eventos incertos, que são articulados de forma tal que permitam que se passe da situação de origem para um momento futuro, observando uma linha coerente.
Bethlem (2002) aprofunda a definição apresentada, afirmando se tratar de textos escritos, que contêm seqüências hipotéticas, quanto a situações complexas, que são edificadas com o intuito de concentrar a atenção sobre os processos casuais, bem como em pontos de decisão, de modo a procurar facilitar a decisão diante da situação de incerteza e de ignorância parcial tal como se encontram os tomadores de decisão.
A construção de cenários prospectivos, conforme Porter (1989), tem por fim reduzir as chances de se adotarem ações voltadas para lidar com um elemento da incerteza as quais acabem por agravar, involuntariamente, a posição da empresa com relação a outras incertezas que não tenham sido levadas em conta.
Segundo Schwartz (apud MORITZ; NUNES; PEREIRA, [s.d.], p. 4):

Os cenários aparecem pela primeira vez logo após a Segunda Guerra Mundial, como um método de planejamento militar. A Força Aérea dos EUA tentou imaginar o que o seu oponente tentaria fazer, e prepara estratégias alternativas. Nos anos 60, Herman Kahn, que fizera parte do grupo da Força Aérea, aprimorou os cenários como ferramenta para o uso comercial.


A partir da construção desses cenários pode-se recorrer à metodologia de estratégia de atores, que é designada como método MACTOR (Matriz de Alianças e Conflitos: Táticas, Objetivos e Recomendações). Este possui objetivo, tanto interativo como pluralista, possibilitando também que sejam identificadas as convergências e as divergências entre esses, no que diz respeito aos propósitos e às maneiras a serem utilizadas para implementar, gerenciar e difundir suas estratégias e políticas. Não se restringe a realizar uma identificação concreta e objetiva quanto às estratégias dos diferentes atores (CODET, 1993).
Além disso, existe a possibilidade de se constituírem grupos de atores de acordo com os objetivos estratégicos que possuem, podendo criar, enfim, uma tipologia de objetivos, levando em conta o nível de mobilização e o da possibilidade de conflitos existente entre eles.
É importante que se registre que, não obstante o fato de se atribuir a Godet à idéia relativa à construção de cenários prospectivos, Moritz, Numes & Pereira [s.d.] dão conta da existência de métodos distintos, como o adotado pela General Elétric (GE), o Schwartz e da Global Business Network (GBN), o de Cenários Industriais de Michael Porter e a Metodologia de Grumbach.
Quanto ao preparo do profissional que irá projetar os cenários Schwartz (apud MARCIAL; COSTA, 2001, p. 8) recomenda a conveniência de este “[...] também ler sobre assuntos fora de sua especialidade”, bem como: “[...] acompanhar livros que estão sendo publicados, ou seja, procurar estar informado sobre o que há de novo”, além de: “Ler o caderno de ciências e de informática de jornais [...] para estar atento ao que há de novo em ciência e tecnologia e que já está disponível ao público em geral e que poderá modificar seu comportamento”.


3.  estratégias organizacionais E O CENÁRIO PROSPECTIVO

Porter (1989) considera serem os cenários valiosos dispositivos para levar em conta a incerteza, na eleição de opções estratégicas. Isto se dá pelo fato de permitir que uma organização despreze previsões que lhe sejam perigosas quanto a um único ponto do futuro nas hipóteses em que este não encontre qualquer possibilidade de ser previsto.
Os métodos dos cenários permitem propor, tanto as orientações como as ações estratégicas, que se mostrarão coerentes com as competências da empresa, observando os cenários de seu ambiente geral e o de sua concorrência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O recurso aos cenários prospectivos pode, enfim, ser visto como uma forma apropriada para solucionar problemas relativos às estratégias a serem adotadas pelas organizações, mesmo tendo em consideração o fato de o futuro ter por principal característica a incerteza.
Os métodos existentes para tanto permitem, ainda, exercitar as possibilidades com que as organizações podem contar, de modo a permitir que esta possa dispor de uma visão de como se enquadraria dentro de determinado cenário provável e não simplesmente possível de ocorrer. Ela pode visualizar de que maneira afeta e pode ser afetada pelas potenciais circunstâncias dos diferentes futuros passíveis de ocorrência.
A partir do momento em que adota determinada ação, previamente submetida a uma análise de cenários prospectivos, a organização pode reduzir, sensivelmente, a possibilidade de se deparar com surpresas, para as quais não estaria preparada para adotar uma posição a respeito.
Os métodos que envolvem a análise do cenário prospectivo mostram-se, por esta forma, como instrumentos de grande valor para evitar que sejam traçadas metas impossíveis de se cumprir, o que envolve não só perda de tempo, como também todo um desgaste por parte daqueles que estiverem empenhados em seguir a estratégia definida para tanto.
Diante disso, contribuem, efetivamente, para um melhor desempenho das organizações nos mercados em que atuam.


REFERÊNCIAS

BETHLEM, Agrícola, Estratégia empresarial: conceitos, processo e administração estratégica.  4. ed. São Paulo. Atlas, 2002.

FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

GODET, Michel A. Manual de prospectiva estratégica: da antecipação à ação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1993.

MARCIAL, Elaine. Aplicação de metodologia de cenários no Banco do Brasil no contexto da inteligência competitiva. Université de Droite et des Sciences D´Aix, Faculté des Sciences et Techniques de Saint-Jérome, Centre de Recherces Rétrospectives de Marseille. Dissertação de DEA em Inteligência Competitiva. Marseille, France, 1999.

______; COSTA, Alfredo J. L. E o mundo não acabou... O uso de cenários prospectivos e Inteligência Competitiva: caso do Bug 2000 no Banco do Brasil. Anais do II Workshop Brasileiro de Inteligência Competitiva e Gestão do Conhecimento. Florianópolis, SC, 2001.

MORITZ, Gilberto de O.; NUNES, Rogerio da Silva; PEREIRA, Maurício F..Os métodos de prospecção de cenários e sua aplicação das organizações: um estudo de caso no período de 1998-2008. [s.d.]. Disponível em: <http://www.ead.fea.usp.br/semead/11semead/resultado/trabalhosPDF/490.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2010.

OXFORD Wordpower Dictionary Dictionary for learners of English. 7th. ed. Oxford: OxfordUniversity Press, 2003.

PORTER, Michael. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. 27. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989.


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