sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Paulo Roberto Salvador Lopes de Souza

HOMEM, SUA EXISTÊNCIA e a dE DEUS

Paulo  Roberto Salvador Lopes de Souza

Resumo


O presente artigo se propôs a fazer uma análise dos aspectos que envolvem o homem em sua busca para compreender sua própria origem e existência, considerando a evolução do pensamento a respeito ao longo da História da Humanidade. Pode-se extrair dos registros que foram sendo descobertos, desde os primórdios, que existe a curiosidade em saber como surgiu o universo, o mundo em que se vive atualmente e a própria existência da vida. Neste contexto surge obrigatoriamente a indagação sobre Deus e as concepções que se têm a respeito. No início, os mitos, com a predominância do politeísmo, já que para tudo sobre o que não se contava com explicações atribuía-se a deuses. Atualmente prevalece a idéia de um Deus único, ainda que sua existência seja objeto de questionamentos. Foram confrontados na investigação os papéis da ciência e da religião na busca de oferecer respostas para as indagações acerca da existência de Deus. O estudo foi do tipo descritivo, utilizando-se de fontes bibliográficas. 

Palavras-chave: Homem. Deus. Vida.

introdução

O ser humano, por ter sido criado com uma inteligência superior aos demais entes vivos, traz consigo uma característica singular que é a curiosidade. A partir daí sempre esteve em busca de explicações para todos os fenômenos que ocorrem a sua volta e entre eles a origem do Universo e da vida e as razões para tais existências.
Para as civilizações antigas o universo foi compreendido a partir de fundamentos exclusivamente mitológicos, filosóficos ou religiosos, uma vez que não contavam com o auxílio da ciência, notadamente a cosmologia – trata da estrutura do Universo - e a cosmogonia – trata da origem e evolução do Universo - as quais oferecem, também, sua versão para os fatos.
O presente estudo tem por objetivo final analisar de que maneira o homem dos tempos atuais vêm se posicionando entre a ciência e a religião sobre o sentido da vida.
A metodologia adotada é de uma pesquisa que se caracteriza, conforme Vergara (2003), como descritiva, quanto aos fins, e bibliográfica quanto aos meios. É descritiva por ter procurado expor as posições da literatura a respeito da origem do Universo e da vida, tanto sob a ótica científica como pela religiosa. A pesquisa bibliográfica realizada compreendeu uma leitura de reconhecimento dos materiais coletados com vista à escolha daqueles que tratassem dos temas relacionados com a situação-problema. A partir daí foram utilizados, livros, Revistas e textos extraídos da internet.

1. TEORIAS E MITOS SOBRE A CRIAÇÃO DO UNIVERSO E DA VIDA

Dentre as teorias científicas que buscam uma explicação para a origem do Universo a que conta com maior aceitação é a do Bing Bang (Grande Explosão). Baseia-se na idéia de ter ocorrido, entre 10 (dez) e 20 (vinte) bilhões de anos atrás, uma gigantesca explosão que transformou tudo o que existia até então no que hoje se considera como sendo o Universo, com seus astros, galáxias e toda a ordem de elementos já conhecidos pelos homens.
Contrapondo-se a tal concepção tem-se a teoria do criacionismo, de fundamento religioso, que se baseia na idéia de uma divindade criadora, como responsável também pelo surgimento da vida na Terra. É o que se extrai de Salmos (33: 6,9), onde consta que: "Mediante a palavra do Senhor foram feitos os céus, e os corpos celestes, pelo sopro de Sua boca... Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo surgiu".
No Antigo Testamento os mitos da criação se fazem presentes, tornando-se verdadeiros alicerces do Cristianismo, bem como para o Judaísmo e o Islamismo.
O mito da criação do homem por uma força divina, a partir do barro, é encontrado em registro da Grécia Antiga fazendo-se presente em diversas outras civilizações. Ainda que esses possam ser considerados atualmente como absurdos é importante que se evite o equívoco de interpretá-los, seja utilizando valores e símbolos da cultura que se possui ou procurar envolver conhecimentos científicos para buscar explicá-los, pois, como salienta Gleiser (1978, p. 24): “Os mitos têm que ser entendidos dentro do contexto cultural” em que foram criados.
O maior valor que deve atribuir a esses é o fato de que os mitos servem para demonstrar a maneira como cada cultura interpreta e organiza a realidade que vivencia.
Em Gênesis (2.4-15), na Bíblia, que se tem a menção quanto ao lugar perfeito para o homem viver.
Trata-se do Jardim do Éden, que representa um lugar em que se vive feliz, sem dor ou sofrimento, dispensando-se a necessidade de trabalhar. Este local guarda semelhança com a Idade de Ouro da mitologia grega, a qual faz referência ao deus Crono, que presidia uma raça de homens que igualmente não precisavam trabalhar. Isto decorria do fato de que a própria terra, por ser especialmente criada, não necessita de cultivo para produzir os alimentos necessários à sobrevivência humana (POUZADOUX, 2001).
Pelo que se pode extrair o Jardim em tela representa a evocação da Vida, com fecundidade em abundância. Também pode ser visto como a realização da terra prometida para os hebreus que obteriam uma terra “fértil e espaçosa, uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3, 8). E, na seqüência: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27).

2. a existÊncia de deus

Todas as explicações que foram desenvolvidas ao longo do tempo quanto à existência de Deus sempre enfrentaram por maior obstáculo os conceitos oriundos da ciência.
As teorias que foram surgindo, estabelecendo o confronto entre ciência e religião, podem ser agrupadas, enfim, em 3 (três) momentos que são: a existência inquestionável de Deus, que dá lugar à suposição cartesiana da dúvida da existência de Deus e, ao final, a exortação nietzschiana de que Deus estaria morto.
Inicialmente, no mundo antigo, o que mais aproximaria do que seja hoje visto como ciência pode ser considerado aquilo a que Platão denominou de episteme, concebido como sem vínculo com a técnica. Neste contexto, baseando-se na premissa da existência de Deus, ao cientista cabia limitar-se a interpretar o mundo de acordo com uma linha de pensamento própria. Isto porque não se admitia a experimentação como procedimento visando à produção do saber. Ao sábio cabia apenas encontrar uma causa para explicar a existência das coisas, não se questionando se estas eram obras de criação divina.
Explica Leal (1998, p. 43) que, na época a convicção que se possuía quanto ao processo de criação divina era inabalável. Diante disso, os dogmas que procuravam oferecer explicação para o surgimento e o desaparecimento das coisas e sua dinâmica deviam ser seguidos porque “[...] o fenômeno da fé e da crença em Deus deveria bastar para a não-explicação de todos os mistérios que envolvem o ser humano”.
No período em que surgiu a dúvida quanto à existência de Deus esta pode ser atribuída a Descartes, quando colocou tal questão em xeque, introduzindo, assim, a figura “daquele que não crê, daquele que carece de provas fundadas” (CABAS, 1998, p. 36).
É quando a dúvida transforma-se em um método, fazendo surgir um campo de saber a partir do qual a dúvida torna-se um argumento para a sistematização, cuja base é duvidar de tudo e tem por fim proporcionar condições que sejam propícias para estabelecer a certeza como algo concreto e constante.
Segundo Descartes (1973) não se deve ter apego aos sentidos, por considerar que dados sensoriais podem induzir a erros, sendo também ilusórios. Para ele Deus, se existisse teria criado um mundo imperfeito, permanecendo na função de eterno ajustador de sua criação, sendo o mundo visto, então uma obra inacabada.
Assim o filósofo em questão acabou lançando o que se poderia chamar de homem reflexivo, o qual considera que sua crença baseada em sentidos dá espaço para erros, fazendo-o a ter maior apego aos fundamentos da ciência.
Finalmente tem-se a exortação considera que Deus estaria morto, a partir de Nietzsche (1983), com base nas idéias de Kant (1983) que partia do princípio de que todos os objetos devem se acomodar.  A partir daí a necessidade do saber cientifico e da produção de bens recorrendo-se à técnica, praticamente autônoma, a vontade de Deus poderia ser vista como praticamente nula, a qual ficaria reduzida às possibilidades de ocorrência de acidentes e do inesperado. Isto, contudo, leva à reconhecer no homem uma consciência crítica indicando-lhe que este não poder mais escapar à responsabilidade por seus atos, por serem eles puramente humanos. Diante disso torna-se inaceitável pretender se esquivar das conseqüências pelas atitudes tomadas, menos ainda contar com a possibilidade de atribuir a Deus a razão de suas ações.
As idéias então lançadas fizeram com que o homem experimentasse uma condição de abandono, levando-o, enfim, a buscar uma solução para a angústia sofrida, o que se fez através da ciência, a qual, aos poucos, foi concorrendo para eliminar a suposição da existência de Deus.
Acontece que, recentemente, o pesquisador polonês Michael Heller, utilizando-se de leis da física e da filosofia, acabou conseguindo demonstrar que Deus existe. Isto acabou lhe proporcionando o Templeton 2008,[1] um dos mais cobiçados prêmios do mundo, no valor de 820 mil libras esterlinas (cerca de R$ 2,87 milhões). Sua metodologia teve por base o chamado “Deus dos cientistas”, representado pelo big bang, a grande explosão que teria dado origem ao universo. Daí recorreu à Teoria da Relatividade, de Einstein, quando, enfim analisou as condições cósmicas, como a ausência de gravidade que interfere nas leis da física, chegando a sustentar a possibilidade de se encontrar Deus nos conceitos da física quântica. Concluiu, então, que se um determinado átomo pode atrair outro, então Deus e ciência também se atraem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo que se extrai do estudo realizado, a capacidade de raciocínio com que os seres humanos são dotados leva-os a um estado tão amplo de liberdade de pensamento, que acaba fazendo-os questionar o que está tão claro diante de si que é a existência de Deus, sendo Ele autor de toda criação.
A dificuldade maior, ao que parece, está justamente nesta mesma liberdade irrestrita para agir conforme as próprias conveniências e convicções, o que acaba deixando o homem perdido, caso não saiba utilizá-la de modo a lhe proporcionar felicidade. Isto somente será alcançado caso saiba conduzir sua vida conforme a ordem de Deus.
Juntando-se o saber o científico com as doutrinas religiosas partem do princípio de que o homem é um ser dotado da sensação de desamparo e ciente de sua condição de incompletude Falta-lhe algo, enfim. É justamente este espaço vazio é que estimula ciência e religião para completar. A partir daí cria os mais diversos tipos de objetos, que disponibiliza para o homem como possíveis instrumentos para a solução imediata para a falta que sente.
A religião, a seu turno, na busca de oferecer suporte para preencher o vazio, fundamenta-se em Deus, como um ente completo, pleno de amor, pronto para oferecer sua proteção a todos os que a Ele recorrem em pensamento.
Um caminho que pode oferecer uma solução equilibrada para conciliar os dois aspectos descritos poderia ser, então, amar a Deus com o coração mas também com o intelecto.





REFERÊNCIAS

Bíblia sagrada: nova versão internacional. 2. ed. Santo André (SP): Geográfica, 2009.

CABAS, A. G. Da queda dos deuses e do advento do sujeito na filosofia política. Revista Latusa. 2, Rio de Janeiro, 1998.

COSMÓLOGO recebe prêmio defendendo existência de Deus. 14/03/2008. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL350919-5603,00-COSMOLOGO+RECEBE+PREMIO+DEFENDENDO+EXISTENCIA+DE+DEUS.html>. Acesso em: 13 maio 2010.

GLEISER, Marcelo. A dança do universo: dos mitos de criação ao big bang. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

KANT, I. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

LEAL, C. E. A estrutura do sacrifício e o objeto a. Revista Latusa. n. 2, Rio de Janeiro, 1998.

NIETZSCHE, F. O crepúsculo dos deuses. São Paulo: Abril Cultural, 1983.  

POUZADOUX, Claude. Contos e lendas da mitologia grega. São Paulo: Cia das Letras, 2001.

SHINDOLL, Harold. A ordem perfeita de Deus.  São Paulo: IFC, 1988.

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

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